quinta-feira, 19 de maio de 2011

. Questões importantes.

Olá pessoal!

Estamos quase chegando na reta final do Parlamento Jovem 2011, e confesso que vou ficar com saudades deste desafio e de vocês....
Neste post vou conversar sobre as questões que pedi para vocês refletirem em casa. Vou falar sobre cada uma pormenorizadamente, mas queria deixar claro que a respeito de cada uma existe muita polêmica e pontos de vistas, o esforço é sempre para destruir o senso comum e as opiniões pré-conceituosas e não científicas sobre o tema. Vivemos numa democracia, e vocês podem naturalmente ter opiniões contrárias ao que eu pessoalmente acredito.... Por isso pedi que vocês refletissem primeiro e sozinhos, e que fossem bem fundo nestas questões que são centrais. (Devo acrescentar algumas coisas a este post futuramente, mas estou postando agora pra vocês já terem uma idéia do que vai rolar no encontro de hoje a tarde...)


1 – Porque as pessoas precisam alterar suas consciências?

O uso de drogas é tão ancestral como a seleção da flora disponível em diferentes regiões do mundo para a alimentação. Ao se buscar plantas que alimentavam, os seres humanos no período pré-histórico descobriram algumas que tinham poder psicoativos, ou seja, poderes sobre a mente. A origem de boa parte das religiões existentes tem relação com o uso de certas substâncias consideradas sagradas, assim é possível pensar que historicamente junto do surgimento de um alimento para o corpo, surge também um tipo de alimento para o espírito. Conclui-se que as pessoas sempre desejaram alterar suas consciências, e sempre o fizeram. 
Os estados que as drogas produzem são simplesmente a intensificação de estados que já existem na natureza humana. Desta forma, o que muda é a definição social que atribuímos a este consumo, que é apenas a forma aceita de se consumir estas drogas, por exemplo, restrições a faixas etárias ou de grupos sociais específicos (hoje em dia, por exemplo, é inadmissível pensarmos em crianças usando drogas); momentos que são propícios para o uso (hoje em dia, por exemplo, podemos beber socialmente numa festa, mas não podemos dirigir embriagados ou mesmo trabalhar desta forma). 





2 – Porque os jovens estão bebendo ou consumindo tantas drogas hoje em dia?


·        Motivo que todos nós conhecemos bem: exclusão social – ambientes sociais com vulnerabilidade econômica são locais propícios de disseminação farta e fácil das drogas - os adolescentes que nascem e crescem numa realidade assim, provavelmente buscarão nas drogas uma saída para problemas familiares, para a sua incerteza quanto ao futuro, ou seja, usarão droga para fugir da má realidade na qual se encontram

·        MÍDIA - Discursos hegemônicos são construídos direcionados à juventude com um conteúdo simbólico estruturado de acordo temas de seu interesse: música, moda, estilo, drogas, bebida, vida noturna. Numa ambivalência descarada, a mídia coloca além de outros produtos como obrigatoriamente consumíveis, a droga como substância útil ao cidadão e principalmente ao jovem, como algo importante nas horas de lazer, como acontece claramente nas propagandas de cerveja e outras bebidas atuais. Além disso a mídia propaga simultaneamente o individualismo, o consumismo e o hedonismo, que juntos transformam-se em potencializadores da violência, do consumo de drogas, da apatia frente a realidade social, da fragmentação social, ou seja, cria sujeitos ou jovens não-coletivos, prontos ou ávidos para escapar desta realidade a qualquer momento em qualquer forma de escapismo.

·        CRISE SOCIAL – Os jovens, no processo de transição para a fase adulta e construção de uma personalidade, precisam naturalmente se auto-posicionarem no mundo, mas acima de tudo são obrigados pela mídia a se auto-afirmarem a qualquer preço.  Vários elementos combinam-se para que o 
consumo de drogas e principalmente álcool nessa faixa etária seja especialmente prejudicial: os 
próprios padrões de consumo dos adolescentes, inexperiência, tendência à impulsividade, aspectos biológicos da maturação do sistema nervoso, entre outros. Nessa  fase, os aspectos simbólicos do consumir drogas ou beber têm grande importância, desde aqueles ligados à prática de um ato de transgressão (afinal, o consumo de álcool só é permitido para os adultos)  passando pelo sentimento de pertencer a ou se identificar com um determinado grupo, até o relaxamento e a diversão que estão associados com esse consumo e são reforçados pela propaganda de álcool. Além disto, como os jovens não encontram uma coletividade em lugar algum, nem na Escola, nem na Família, vão encontrar numa coletividade de amigos que também consomem drogas a identidade social que tanto precisam. Esta crise é também característica de tudo o que a mídia propaga: individualidade, hedonismo e consumismo. Com isto, mais e mais jovens buscam no prazer efêmero das drogas uma resposta para uma vida vazia de sentido e sem perspectiva de construção no futuro, geralmente as pessoas que buscam as drogas por estes motivos são as mais propensas a sofrer consequências relacionadas ao seu uso abusivo. 

·        REPRESSÃO – a repressão operada pelo próprio Estado acaba gerando o efeito perverso de incentivar o uso de substâncias ilegais, que embora possuam uma alta nocividade e um risco ao serem consumidas, não deixam em momento algum de serem totalmente consumidas, pelo contrário. A insatisfação que a repressão gera nos jovens quando o Estado age violentamente através da polícia, das leis proibicionistas que valem para todos, mas que só colocam os jovens economicamente vulneráveis nas penitenciárias ou mesmo quando o Estado segrega e exclui socialmente as pessoas através de problemas os quais não dá conta de resolver, faz com que os jovens experimentem ou usem drogas como forma de protestar.



3 - Se levarmos em consideração a quantidade de pessoas que fumam, bebem ou usam remédios na sociedade, chegaríamos à conclusão que usar drogas é um típico comportamento humano, porque isto acontece?


Ao percorrermos a história da civilização, encontramos a presença de drogas desde os primórdios da humanidade. O consumo de drogas deve, portanto, ser considerado como um fenômeno especificamente humano, isto é, um fenômeno cultural.
Tal diversidade no consumo de drogas (bebida, remédios, chás alucinógenos, etc) motiva que cada sociedade procure orientar o uso dessas substâncias quando é percebido como problemático. Até mesmo na
antiguidade clássica (da Grécia de Homero à queda do Império Romano), o abuso de vinho tornava se um problema social.
O PROBLEMA NÃO É CONSUMIR DROGAS, QUE É SEMPRE UM FENÔMENO CULTURAL E QUE FAZ PARTE DA VIDA DAS PESSOAs.  O PROBLEMA É sempre CONSUMIR exageradamente ou arbitrariamente ESTAS SUBSTÂNCIAS, O QUE cria PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA. UM EXEMPLO DISSO É O PRÓPRIO CONSUMO DO ÁLCOOL NA SOCIEDADE ATUAL, QUE quando usado incorretamente ou de forma abusiva e danosa se relaciona a vários problemas de ordem pública, quais sejam: acidentes de trânsito, violência doméstica, violência entre jovens, etc. 

Atualmente, estudos chegam à conclusão de que a estratégia que devemos adotar e que é a mais inovadora hoje em dia em termos de políticas públicas no combate às drogas é a de REDUÇÃO DE DANOS. O que significa isto? Redução de danos constitui um conjunto de medidas de saúde pública voltadas para minimizar as conseqüências adversas do uso de drogas. O princípio fundamental que as orienta é o respeito à liberdade de escolha, e é justificada à medida que os fatos comprovam que mesmo sendo proibidas as drogas nunca deixam de ser consumidas e que certos usuários muitas vezes não conseguem abandonar o uso por conta própria ou simplesmente se recusam a não experimentar. Além disso, reduzir os danos significa informar claramente a população sobre os efeitos e benefícios das drogas, o que raramente acontece, estabelecer centros de apoio aos dependentes ou pessoas potencialmente usuárias no futuro. 



4 – É possível um mundo totalmente isento de drogas? 



Recentemente reunidos na FioCruz (instituição localizada no Rio de Janeiro, ligada ao governo federal, e que tem como objetivo promover pesquisas na área da saúde pública os participantes da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD) vieram a público apresentar as suas conclusões após 18 meses de pesquisa sobre a questão das drogas. Concluíram em relatório que será entregue ao governo em julho deste ano, que a maconha é a droga ilícita menos prejudicial à saúde, além disso o relatório propõe uma forma alternativa de combate ao problema, visto que “alcançar um mundo sem drogas revelou-se um objetivo ilusório”. 



A Fiocruz, instituição que é formada por especialistas de diversas áreas, como saúde, direito, jornalismo, segurança pública, atletas, movimentos sociais, entre outras, pede que se realize um “debate franco” sobre o tema e que seja discutida a regulação da produção da maconha para consumo próprio e a descriminalização do seu uso. O relatório cita ainda os exemplos de Espanha, Holanda e Portugal, que adotaram medidas semelhantes às indicadas pela Comissão.
Em entrevista a revista Carta Capital o presidente da Instituição e da própria Comissão, o médico Paulo Gadelha declara que - e aqui vou resumir os pontos mais importantes das declarações dele:

“A idéia da guerra às drogas como tema central do enfrentamento do problema se mostrou ineficiente. É preciso diferenciar claramente, e isto não é feito em momento algum, quem é o usuário - que é quem realmente sofre com os problemas relacionados aos danos que as drogas causam à saúde- e quem é o traficante. O primeiro deve seguir naturalmente para a sua despenalização e receber ao longo do tempo informação e orientação científica adequada, pois ao ser apenas tratado como criminoso cria-se barreiras, tabus e preconceitos. Neste caso quem precisa de ajuda sente-se tolido e com dificuldades de colocar o seu problema em um espaço público. O mais importante é informar as pessoas para que amenizem os danos, para que preservem a sua saúde”


“ É preciso diferenciar descriminalização, despenalização e legalização, e a  Comissão pede a despenalização. Por exemplo usar continua sendo um crime, mas não há o aprisionamento para o usuário, que se submeteria ao tratamento e a penas alternativas. Para o tráfico, a Comissão tem uma postura muito clara de que o circuito de armas e a dominação de território devem ter suas penas agravadas ou seja radicalização ao trafico, mas tratar o usuário sob outros parâmetros.”



Críticas à lei antidrogas em vigor atualmente: “A lei antidrogas brasileira tem aspectos importantes que avançaram com relação ao passado, mas também outros que trazem ambigüidades. Não especifica por exemplo, o que é considerado uso ou tráfico em termos de quantidade, decisão tomada pelo arbítrio das autoridades judiciárias e policiais, resultado: coloca-se nas prisões réus primários, encarcerados portando pequenas quantidades de droga e sem relação com o tráfico, que acabam sendo iniciados no crime pela prisão.”


“Países como Espanha e Portugal descriminalizaram o uso da maconha, mas adotaram políticas de apoio ao usuário, para evitar danos a sua saúde, como tratamentos psicológicos e de desintoxicação. ´No Brasil estas condições deveriam ser construídas imediatamente. O Ministério da Saúde está com muita clareza em relação à necessidade do Sistema Único de Saúde em oferecer de maneira acolhedora esse tratamento, que está muito aquém da nossa necessidade atual. O fato dessa necessidade no sistema de saúde independe da descriminalização, pois as pessoas estão precisando de tratamento agora.”



CONCLUSÃO:

É importante que tratemos do assunto drogas de forma sincera, franca e sem tabus ou preconceitos. Que nos alimentemos de informações científicas, claras e concisas. A partir disso podemos chegar à conclusão que há algo na vida das pessoas que a fazem consumirem drogas, pode ser um problema pessoal, familiar, pode também ser uma escolha que é livre, religiosa ou mística e que não tem nada a ver com problemas pessoais, ou pode também ser um problema gerado na sociedade ou pelo próprio Estado, que reprime e criminaliza sem dar ajuda e assistência efetivas às pessoas. É bem difícil imaginar um mundo totalmente isento das drogas, pois lidamos com elas e precisamos delas há séculos. A política de combate às drogas, atual, que prevê inicialmente que elas sejam completamente abolidas do planeta, é uma guerra perdida.
Contudo, medidas podem ser tomadas para EVITAR ou PREVINIR o uso de drogas ou AMENIZAR os seus danos, as pessoas precisam de educação e informação adequadas para tanto e acima de tudo, de uma vida que as integre e satisfaça suas necessidades de uma forma plena, para que no final das contas elas consigam encontrar a felicidade sem usar drogas.




Referências

Sites
- Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia


- Entrevista concedida à revista Carta Capital do presidente da Fiocruz e da CBDD


Textos

LEMOS, Tadeu. Ações e efeitos das drogas de abuso. In: Prevenção ao uso indevido de drogas. Curitiba: SEED, 2008. p. 51-60. (Cadernos Temáticos – Desafios Educacionais Contemporâneos).



CARNEIRO, Henrique Soares. As drogas no Brasil: entre o delírio e o perigo. In: Revista Nossa História, ed. 33, 2006. p. 12-27.



MEDEIROS, Regina. Jovens, Violência e Drogas no Contexto Urbano. In: Prevenção ao uso indevido de drogas. Curitiba: SEED, 2008. p. 17-25. (Cadernos Temáticos – Desafios Educacionais Contemporâneos).



MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é redução de danos. In: Manual de redução de Danos. Brasília: MS, 2001. p. 11-13. (Série Manuais – n. 42)



FEFFERMANN, Marisa; FIGUEIREDO, Regina. Redução de danos como estratégia de prevenção de drogas entre jovens. In: Boletim do Instituto de Saúde, ano X, n. 40, dez. 2006. p. 37-40.


Filme:
Cortina de Fumaça


Palavras.
* hedonista: pessoa que faz do prazer um objetivo de vida. 



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